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terça-feira, 21 de abril de 2009

António Cabral

A UMA OLIVEIRA 

Velha oliveira,  ó irmã do tempo e do silêncio,
algo de ti se me tornou hoje perceptível;
algo que eu não conhecia e me fez parar
na ténue sombra que teces no caminho;
algo que é uma doce corola de contacto.


Já os passos da luz se afastam na colina
e um rumor de pérolas quebradas
desce, lentamente desce por toda a serrania.
Já as aves tuas amigas procuram na folhagem
a doçura acumulada nos favos da noite.
E  também já são horas
de nós os homens, nós os que passamos,
suspendermos as cítaras do pensamento.


Entretanto, ó canção do crepúsculo, velha oliveira,
eu paro sob os longos cílios da tua ramagem.
Paro e, ao sentir nas mãos o teu enrugado tronco,
e, nos olhos, a serenidade das tuas folhas,
começo a entender uma bela mensagem:
a paz, ah a paz!, a rosa da paz.


É como se uma gota de azeite descesse,
brandamente descesse pelas coisas.



In Poemas Durienses

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